Pequena amostra de como foi a jornada da Equipe Vermelha, no decorrer da Gincana. Gratidão a todos os que nos ajudaram, apoiaram e torceram, fortalecendo assim ainda mais essa equipe guerreira. Não importa o resultado final, o importante é que conseguimos crescer ao longo do tempo. Até a próxima, pessoal! ♥
Blog criado com o objetivo de publicar as tarefas da Gincana Literária da Escola Estadual João dos Santos Amaral.
quinta-feira, 24 de outubro de 2019
sábado, 5 de outubro de 2019
sábado, 14 de setembro de 2019
FANFIC DE 'COMO EU ERA ANTES DE VOCÊ' | EQUIPE PRETA - FERNANDO PESSOA
E ai galerinha mais ou menos tudo beleza?
Dessa vez, a nossa tarefa é fazer para vocês uma fanfic. Mas a pergunta que você deve estar se fazendo é: “O que é uma fanfic?” Estamos aqui para te ajudar a entender isso, então vamos lá.
Se você der uma olhadinha no nosso amigo Google, você vai ver que uma fanfic é nada mais, nada menos do que uma ficção de um fã. Não entendeu ainda? Relaxa que eu te explico. A fanfic é uma história de algum fã. Sabe quando você quer dar continuidade para aquela história que você ama, mas infelizmente o autor deu outro fim a ela? Bom, com esse “auxílio” você dá uma nova continuação para o seu livro ou quem sabe mudar o final que ele teve e não te agradou.
Então é isso que faremos hoje, e esperamos que vocês gostem do nosso trabalho.
Para cumprir essa tarefa escolhemos o apaixonante e triste Como eu era antes de você. Quem nunca chorou ou pelo menos sofreu muito com o final deste livro? Não sabe do que estou falando, nunca leu o livro ou viu o filme? Pois é galerinha, o livro fez tanto sucesso que virou filme (faltaram algumas coisas lindas, mas tudo bem). Se você faz parte das pessoas que não fazem ideia do que estou falando, aqui tem o link do beco literário com o resumo da história
⇨https://becoliterario.com/resenha-como-eu-era-antes-de-voce-jojo-moyes/, mas se você tem um pouquinho de preguiça de ler aqui vai um link do canal da gincana literária⇨https://www.youtube.com/watch?v=PczqoGyKLX8&t=4s onde os nossos pequenos falam tudo e mais um pouco sobre essa história e melhor sem spoiler. Agora que você ficou por dentro de tudo, deixa eu te contar. E que tal seria se eu desse a vocês um final alternativo? Se por um acaso algo deixasse vocês tão surpresos que iriam querer esse como o real final da história? Pelos poderes que me foram concedidos, eu Laura Martins da equipe preta Fernando Pessoa, lhes apresento o nosso final alternativo de Como eu era antes de você. Boa leitura…
Sinopse: Louise e Will, chegam de viagem e ela acaba pedindo demissão após descobrir que Will não mudou de ideia sobre a Suíça. Dois dias se passam e Lou recebe uma carta. Chega o dia da viagem para a Suíça e já arrependida ela decide abrir o pequeno envelope e se surpreende com o conteúdo. Algo atrapalha o encontro de Will e Lou. Será que o amor do casal é capaz de vencer isso?
Sinopse: Louise e Will, chegam de viagem e ela acaba
pedindo demissão após descobrir que Will não mudou de ideia sobre a Suíça. Dois
dias se passam e Lou recebe uma carta. Chega o dia da viagem para a Suíça e já
arrependida ela decide abrir o pequeno envelope e se surpreende com o conteúdo.
Algo atrapalha o encontro de Will e Lou.
Será que o amor do casal é capaz de vencer isso?
Capítulo 1
Quando o dia amanheceu, eu não sabia o que fazer, já
estava acostumada com a minha rotina de acordar cedo e me arrumar para ir de
encontro a Will, mas não seria assim naquela manhã. Eu ainda não conseguia
acreditar no seu pedido, não fui capaz de fazê-lo mudar de ideia sobre a Suiça
e o perderia dentro de 5 dias, por isso pedi demissão, a Sra. Traynor confiou
em mim as suas últimas esperanças e eu falhei. Naquela manhã, procurei algo
para ocupar o meu tempo e tudo me levava a Will, mas eu não iria mudar de ideia
sobre o trabalho. Ao entardecer fui a varanda e pude perceber que havia algo na
caixa de correio. Possuía um envelope endereçado a mim, mas não o abri quando
vi de quem era. Joguei sobre a bancada e subi para tomar um banho.
Will
Louise não atendia mais as minhas ligações ou
mensagens, desde que discutimos na praia. Ela não tinha aceitado a minha
escolha de ir para a Suíça, mas ela não entende o que eu sinto. Eu a amo, me
interessei por ela, desde quando ela chegou na minha casa com aquelas suas
roupas engraçadas e o seu jeito desastrado, ela me proporcionou os melhores 6
meses da minha vida e eu queria que ela me acompanhasse nessa viagem.
Will, está tudo bem?
Perguntou Nathan me tirando dos meus
pensamentos.
—Ah, não muito! estava pensando na Lou. Ela não quer
mais ter contato comigo!
—Sabe Will,
ela se esforçou muito nesse pouco tempo que passaram juntos, há vi conversando
com sua mãe algumas vezes sobre você, ela realmente colocou todas as suas
forças para tentar fazer você mudar de ideia.
—Nathan você mais do que ninguém deveria me entender,
eu não posso continuar assim, antes a minha vida era perfeita, eu não precisava
depender de ninguém, eu era feliz...
—Ela não te faz feliz? — Nathan me interrompeu — E como faz! mas eu não posso..
—Não pode dar essa chance a ela? Olha pense bem, a
Louise é uma mulher incrível e ela te ama de verdade, dê ao menos uma chance a
ela.
Nathan saiu para ir ao anexo, me deixando sozinho
novamente com meus pensamentos. Eu sabia que ela me amava e eu também a amo,
será que estou errado sobre minha decisão?
Droga Nathan, olha a confusão que você me colocou.
Capítulo 2
Nathan já havia ido ver outros
pacientes, quando tomei uma decisão. Louise não poderia me ignorar desta forma.
Fui próximo ao meu notebook e comecei a escrever uma carta a ela, com o
programa que ela tinha me instalado, minha mãe entrou no quarto e ficou
surpresa com o que estava sendo escrito, desde o meu acidente ela não ficava
assim, pelo menos, não com um sorriso no rosto.
—Will, isso é sério?
—Mãe, eu estive pensando! E acho que sim, a Lou me
faz bem e acho que eu e ela merecemos essa chance, mas tem uma condição.
—Que seria?
—Louise tem esses 5 dias que restam para me
encontrar, ou então eu vou para a Suíça e nem ouse ir falar com ela ou nada
feito.
Minha mãe me encarava desconfiada, apenas sorriu e
saiu do meu quarto.
***
Louise
Já se passaram 4 dias e eu estou começando a me
perguntar se fiz a escolha certa. E de repente eu me lembrei da carta de Will,
desci as escadas o mais rápido que podia e fui direto a bancada.
—Mãeee!!! Gritei o mais alto que consegui e mamãe
apareceu aflita -Lou, oi, o que aconteceu?
—Me desculpa ter gritado, mais onde está um envelope
que estava aqui em cima?
—Aquele da segunda? Alguns eu abri e joguei fora,
eram cobranças e …
—Não, era um envelope amarelo, Will que me mandou e
eu preciso muito dele.
—Ai filha eu não vi, mas coloquei uns papéis dentro
da gaveta.
Revirei aquela gaveta e lá estava
o envelope amarelo, subi para o meu quarto e abri a carta sem pensar duas vez.
Will havia escrito a carta pelo programa que instalei a ele, e isso me deixou emocionada,
suas palavras foram doces e tranquilizantes, ele conseguiu me tirar um sorriso
mesmo distante. Dentro do envelope ainda tinha uma passagem de avião e dei um
grito; quando vi para onde era.
Treena abriu a porta de uma vez para ver o motivo do
meu grito.
—O que está acontecendo aqui?
—Treena você não vai acreditar, Will mudou de ideia,
ele não vai mais para a Suíça, olha! Entreguei a ela a carta, logo em seguida
mostrei a passagem.
—Ele quer que vocês vão para Paris?
Concordei com um sorriso bobo no rosto quase
chorando, eu não podia acreditar naquilo.
—Lou, é para
amanhã!
—Como assim? Eu ainda não arrumei nada
—Então é melhor se apressar!
Assim que disse isso, Treena saiu do quarto e me
deixou ali correndo de um lado para o outro.
No outro dia, fui ao mercado bem cedo, pois mamãe
estava precisando de algumas coisas para o almoço.
—Lou. —Alguém me chamou enquanto eu andava, eu
reconhecia aquela voz, era do…
—Patrick?
—Desculpe,
parece que você está um pouco com pressa, mas precisamos conversar.
—Acho que não temos o que conversar, olha, licença
mas eu tenho que ir.
—Louise! Espera! — Ele agarrou o meu pulso tão forte
que começou a doer.
—Me solta, você está me machucando.
—Olha, eu fui um
babaca…
—E está sendo de novo agora.
—Não me interrompa. Eu sei que errei, mais eu te amo
Lou! Nós estamos juntos a 7 anos, não podemos acabar por causa de um cara que
não consegue nem andar né? kkk
—O que você disse sobre o Will?
—Ah qual é Lou kk, como eu pude ter medo de te perder
pra ele? Ele não tem a menor chance
—Escuta aqui Patrick, a melhor
coisa que eu fiz em anos, foi ter conhecido o Will, diferente de você; ele é
gentil, educado, carinhoso, coisas que você nunca foi comigo. Sinceramente eu
nem sei porque estou aqui falando com você!Eu tenho que ir Patrick.
—Você tem que ir pra onde?
—Olha eu não te devo mais satisfações da minha vida, mas se quer mesmo saber eu tenho que ir pro aeroporto, eu vou viajar com o Will, pra bem longe daqui
—Eu não acredito nisso, você vai me trocar por aquele...aquele…
—Nem pense em terminar o que você ia dizer, você não é e nunca será melhor que o Will.
Quando disse isso olhei para o relógio atrás de Patrick que marcara exatas 10:55, o meu voo era as 11:30, eu ia perder o voo se continuasse ali discutindo com Patrick.
—Louise preste atenção enquanto falo com você—Patrick estava começando a alterar a voz.
—Adeus Patrick, espero nunca mais te ver. — Me virei e saí correndo para casa rezando ainda dar tempo de chegar ao aeroporto.
Capitulo 3
Will
Faltavam poucos minutos para o avião sair, já haviam feito 2 chamadas. Comecei a me perguntar se Louise havia aberto a carta.
—Will, você sabe como a Louise é enrolada, ela já deve estar chegando. — Disse minha mãe já apreensiva, acho que nem ela acreditava nas suas próprias palavras.
—Estou começando a duvidar disso mãe, talvez ela não me ame mais, isso foi tudo uma perda de tempo, deveria ter ido para a Suíça.
—Calma rapaz, dê mais alguns minutos a ela — Meu pai fez um apelo, ao ver minha mãe nervosa com minhas palavras. Consenti e esperei mais um pouco
***
Já eram 11:24 e nada de Louise aparecer, eu simplesmente não podia mais esperar, era inútil.
—Chega, isso já foi longe demais — Disse já irritado. — Ela não vai vir. Pai ligue para os Dignitas assim que chegarmos em casa.
Mamãe, estava começando a chorar quando ouvimos aquela voz doce e ofegante.
—Onde vocês pensam que vão?
Me virei e pude ver o rosto sorridente de Louise para mim.
—Bom Clark, eu estava indo para casa, pensei que não quisesse mais a minha presença.
—Will Traynor, como você sequer pode imaginar isso? — E soltou aquele seu sorriso que eu tanto amava.
A última chamada fez todos sorrirem.
—Você me daria a honra de me acompanhar até Paris para um passeio inesquecível Srta.Clark?
—Eu adoraria Will.
Seguimos até o embarque sorrindo, sabendo que aquela sim tinha sido a melhor escolha que tínhamos feito.
FIM
FANFIC DE CAIXA DE PÁSSAROS | EQUIPE AZUL - WILLIAM SHAKESPEARE
Uma fanfic de Caixa de Pássaros. Malerman, Josh. 2013. Por Pablo Vinícius
Equipe Azul - William Shakespeare
ANTES DA LEITURA, LEIA À SINOPSE DO LIVRO ORIGINAL PUBLICADO NO BRASIL PELA EDITORA INTRÍNSECA:
"Quatro anos depois de as mortes terem começado, há poucos sobreviventes em Michigan. Malorie e seus dois filhos pequenos estão entre eles. O trio faz parte do grupo que tenta resistir em um mundo no qual abrir os olhos pode ser fatal. Vivendo em uma casa abandonada, Malorie e os filhos não sabem o que se passa do lado de fora. Sempre com as janelas e portas cobertas e sem comunicação com o exterior, o local é uma área isolada no meio do caos. Até o momento em que uma misteriosa neblina atinge a região e Malorie toma uma decisão que adiou por muito tempo. Após quatro anos trancados, Malorie e as crianças fogem da casa em um barco a remo na esperança de encontrar um lugar distante do surto que matou todos ao seu redor. De olhos tapados, os três encaram uma viagem assustadora rumo ao desconhecido."
FONTE: Editora Intrínseca
A obra a seguir é uma FANFIC fictícia baseada na obra original do autor Josh Malerman, portanto, alguns personagens e referências são de sua propriedade e foram utilizadas para esta história de forma criativa e sem fins lucrativos
CAIXA DE
PÁSSAROS - VEDADOS PELO NOVO MUNDO
PABLO VINÍCIUS
"A
sua preocupação só mantém você a salvo para que possa ficar ainda mais
preocupada" ─ Caixa de Pássaros. Malerman, Josh.
UM
Malorie está segura. Se sente
aliviada, leve, despreocupada... Como se tivesse descarregado um peso de suas
costas. Segura.
Nunca havia se sentido tão realizada
desde o dia em que havia saído para fazer compras com a sua irmã, Shannon, anos
atrás, antes de todo esse desastre apocalíptico. Fez de tudo que pode para
mostrar-se forte para as crianças, e agora estava ali com Olympia e Tom sãos e
salvos em Riverbridge, refugiados na Escola Para Cegos Jane Tucker, um antigo
lar para deficientes visuais que agora guardava sobreviventes.
No primeiro dia ali, quando cruzou
os portões da entrada, estava insegura e com medo. Todo o receio se esvaiu assim que se passaram os primeiros dias. A umidade
do barco e o mal cheiro dos pássaros mortos já não eram mais um perjúrio; tudo
isso parecia um sentimento vazio deixado para trás juntamente com o seu
passado.
Não havia mais Gary, nem vendas cobrindo
os olhos, nem o vazio causado pela proximidade da criatura.
─ Vão, mas tenham cuidado com as
rampas ─ dizia ela às crianças, que haviam pedido para brincaram com July, uma
menininha com uma doença hereditária que
causou sua cegueira. ─ E não encostem muito perto dos bodes... ─ completou
assim que Olympia e Tom correram em direção a uma área de piso terroso.
─ Eles se acostumaram, tenha certeza
disso ─ diz Constance aos risos. Já estava próxima a Malorie, conquistara sua
confiança assim que resgatara ela e as crianças no rio.
─ Eles são mais fortes que eu.
Aposto que sabem se cuidar muito bem, só digo para garantir. Precisam de um
pouco de liberdade, passaram tempo demais presos às vendas... ─ diz Malorie
enquanto caminha ao lado de Constante em direção à área administrativa.
As paredes iam se estreitando à
medida que avançavam. Malorie sentia o suor escorrer pelas costas, o resultado
da soma do clima quente com o ar abafado.
─ O Rick tem ideia de quando
começarão as caçadas? Quando cheguei ele havia dito que pensava na criação de
um tipo de fazenda.
─ Sim, eu lembro. Acho que isso
acontecerá em breve, o estoque de carne tem diminuído bastante nos últimos
dias, e não podemos arriscar em utilizarmos as cabras e a vaca, que são nossa
fonte de laticínios...
Talvez fosse essa uma das únicas
coisas das quais Malorie temia. Não havia pensado no que aconteceria se
acabassem os suprimentos, apesar de tentar buscar soluções para um problema que
ainda não havia chegado ali, e, de uma forma ou de outra, tentava se preparar
de alguma maneira para caso isso acontecesse.
Chegaram até uma porta indicada como
Sala de Controle com relevos de uma
legenda em braille. Constance bateu, se identificou ao chamar e aguardou.
DOIS
Rick
abre a porta. Tem uma aparência saudável e um bom tamanho, mas o que chama a
atenção são seus olhos, vestidos de um branco leitoso marcado pela deficiência.
Ele tem uma expressão aflita e suas sobrancelhas estão levemente abaixadas.
─
Ah, entre, Constance. Quem está com você?
─ Malorie veio comigo, ela ainda não
sabe o que é mas a trouxe...
─ Ah, sim. Entrem.
O homem abre espaço dando passos
curtos ao lado. Malorie e Contance entram e se vêem em um tipo de sala com
alguns computadores. Ao lado há uma mesa de escritório cheia de papéis
impressos rabiscados por garranchos incompreensíveis. Do outro lado há um tipo
de datilografador e papéis vazios, marcados por pequenos pontos sobressaltados.
─ Bem... Malorie, imagino que
conheça Charlie, ele é quem me ajuda por aqui e é responsável por manter a
ordem e contato com a segurança ─ enquanto diz levanta a bengala e a aponta
para a escrivaninha em que Charlie está. É alto, corpulento, aparenta ter
abandonado a carreira militar.
─ Nunca fomos apresentados antes...
─ diz Malorie. No instante em que Charlie se levanta para cumprimentá-la
percebe que ele enxerga. Se aproxima.
─ É um prazer, Malorie. ─ Ele sorri.
Malorie cumprimenta. Responderia, caso não tivesse seu pensamento cortado pela
fala de Rick:
─ O tempo das buscas por animais vem
chegando. Charlie está reunindo voluntários dispostos a colaborarem para a
formação da nossa pequena fazenda. O estoque tem abaixado bastante desde a
chegada dos últimos resgatados ─ Rick se encaminhava até a cadeira em frente
aos papeis vazios, guiado pela
bengala.
─ Mais pessoas foram resgatadas?
Digo, depois da minha chegada? ─ Malorie perguntou. Estava mais desesperada do
que curiosa.
─ Para ser mais exato, um homem
chegou pelo rio poucas horas depois de recebermos você. Dois dias depois
Constance guiou um grupo de escoteiros mirins para dentro... Cinco crianças e
um adulto, poucas sobreviveram. Algumas se cegaram com gravetos, e uma delas
está internada na enfermaria com uma infecção. ─ o homem explicou, piscando as
pálpebras rapidamente por sobre os olhos leitosos.
Malorie não escutou mais nada depois
que Rick disse sobre o homem que chegara praticamente em seu encalço. Pensava
se a sensação de estar sendo seguida na descida do rio havia sido um fato ou um
delírio.
─ Malorie? ─ Constance chamou
agitando a mão à frente dos olhos dela.
─ Ah... Sim? Oi ─ Malorie respondeu
como se despertasse de um sono.
─ Rick estava dizendo que gostaria
muito que você ajudasse na caça, não só ele como eu também. Sabemos da sua
força de vontade, da sua resistência... Acreditamos que você servirá de muita
ajuda.
─ Constance, eu entendo a sua
admiração, mas não acho que eu seja... ─ fora interrompida por uma fala
empolgada de Charlie.
─
É claro que você é tudo isso, sim. E seria muito bom ter sua companhia,
podemos nos conhecer melhor. Além disso, parece que você enxerga bem melhor de olhos fechados.
─ Eu tenho que pensar bem... Não
quero deixar as crianças aqui e não acredito que eu realmente tenha toda essa
capacidade que vocês colocam fé ─ Malorie parou um instante olhando para o
chão, pensativa. ─ Afinal, qual o dia exato dessa expedição? Quanto tempo dura?
─ Este final de semana. Não acho que
chegue a dois dias, os animais têm tido espaço vasto para vagarem nos
arredores, vai ser mais fácil do que pensam. Você tem a semana inteira para
pensar, eu te entendo... ─ Rick diz de forma clara e compreensível.
─ Eu tentarei dar uma resposta,
mas... as crianças...
─ Pode deixar que eu fico com elas enquanto
você estiver fora, Malorie ─ Constance oferece, mas é rebatida:
─ Então talvez você possa ir em meu
lugar?
─ Estarei cobrindo o trabalho do
Charlie por aqui, o Rick precisa de mim. Mas como ele disse, você tem um tempo
para pensar...
E era exatamente isso que Malorie
faria. Pensaria muito bem antes de responder. Ela não quer sentir o ar de fora novamente.
Não agora que as coisas se tranquilizaram. Não quer se colocar em risco, nem às
crianças. Mais uma vez voltou a suar, agora eram as mãos. Estava nervosa.
TRÊS
Indecisa. Sentada à mesa do
refeitório Malorie não come, não tira as mãos do queixo, não para de balançar
as pernas. Já se passaram dois dias desde a proposta de Rick, e ela não sabia o
que faria. Algo mais a preocupava, e uma pergunta ressoava em sua mente a todo
instante: o homem a seguiu ou sua chegada fora uma coincidência?
─ Não vai comer isso aí? ─ Constance olhava
para ela aflita.
─ Vou sim... Só... Estou pensativa
hoje.
─ Não precisa levar tão a fundo o
que o Rick pediu. Eu sei que é de muita importância procurarmos reabastecer os
estoques de comida, mas você não pode se pressionar a dar uma resposta. Se você
não se sentir confortável, ou simplesmente não quiser ir, ele com certeza vai
entender.
─ Eu sei. Só tenho um pouco de medo
de voltar lá fora. E não quero me afastar das crianças ─ Malorie dizia
pausadamente enquanto olhava para um ponto fixo no seu prato.
Na última vez que havia se afastado dos
filhos, Malorie tinha acabado de perder seus amigos. Ela saiu com Victor,
cachorro do Jules, e deixou as crianças no berço. O que a fez se arrepender de
ter saído era de longe a preocupação de ter Tom e Olympia dormindo sozinhos em
casa, mas o que poderia acontecer a ela lá fora, e o que aconteceria às
crianças se ela não voltasse.
─ Mamãe, a gente pode ir ver os
peixes com a July? Os Carry vão também ─ Tom pedia à mãe. Dava puxões na manga
de sua blusa e transformava um simples pedido em súplica.
─ No córrego? Pode ser perigoso pra
vocês irem sem um...
─ Vem com a gente, por favor? ─
Olympia entrecortou a mãe.
Malorie pensou. Estava se sentindo
meio irresponsável. Por um momento tinha medo de perder as crianças, tinha medo
de deixá-las sozinhas ou com outras pessoas, e em outros instantes as deixava soltas
brincando. Ainda avalia a ideia de ir para a expedição, confia em Constance
para cuidar das crianças enquanto estiver fora. Mas o medo de Malorie ainda era
o mesmo. Tem medo de não voltar.
*
─ Malorie! Malorie, acorda! ─ alguém
a chama. Constance. Está desesperada, balança Malorie pelos ombros, que levanta
de uma vez com olhar atordoado, embaçado pelo clarão das lâmpadas.
─ Constance? O que aconteceu?
─ Os animais! Alguém os envenenou
enquanto todos dormiam. As cabras, a vaca... As galinhas foram estranguladas!
Não sobrou um bicho!
Malorie levanta de uma vez, veste o
roupão sobre o pijama de flanela, acorda as crianças e corre atrás de Constance.
Os corredores estão tumultuados, todos acordaram para saberem o que aconteceu,
e o vai-vem de gente espalhando o ocorrido entorpece os ouvidos de Malorie. Não
mais tranquila, volta a ofegar.
Respira fundo.
Corre.
Puxa as crianças.
O que aconteceu?
Corre.
Puxa as crianças.
O que aconteceu?
Param
na sala de Controle, onde Rick está com mais algumas pessoas. Ele tem com uma
feição preocupada, segura firme no braço da cadeira, e escuta o que Charlie
diz:
─ Não há nenhum registro! Não dá
para saber quem foi. Só sabemos que foram mortos por envenenamento. Temos que
realizar a expedição o quanto antes ─ o homem dizia a Rick, agitado, tenso.
Mexe nos computadores, tenta acessar as câmeras, mas não consegue ver. Não
havia câmeras onde os animais ficavam.
─ E agora? ─ Constance estava mais
preocupada do que nunca, e esperava respostas de Rick.
─ Agora temos que enviar a expedição
imediatamente. O que temos armazenado não é o suficiente para três dias ─
tentava manter-se calmo, mas sequer aparentava estar. Suas pálpebras se mexiam
freneticamente sobre os olhos morto, sua testa está suada, a bengala treme à mão.
─ Eu vou ─ Malorie diz. Todos olham
pra ela, surpresos pela decisão. ─ Tinha dúvidas antes, mas precisamos
encontrar alimento. Lá fora. Quanto mais voluntários, melhor.
─ Malorie...
─ Constance fica com as crianças ─
Malorie diz e olha para Constance, que acena a cabeça afirmando. Se agacha e
olha para as crianças. ─ Vai ficar tudo bem, vocês só precisam obedecer
Constance. Entenderam? Obedeçam ela, fiquem com ela, não saiam de perto dela.
Eu vou voltar mais rápido do que imaginam.
Olympia e Tom estão chorando, simplesmente
acenam e abraçam a mãe. Malorie sabia que eles a entendiam, e eles sabiam que
aquilo era sério "se comportem,
fiquem atentos".
─ Quando vamos? ─ pergunta a
Charlie.
─ Em instantes. Não podemos esperar.
Pode preparar o que quiser levar, vou pegar suprimentos ─ entrega uma mochila
para Malorie.
QUATRO
Malorie está com a boca seca. Suas
narinas estão ressecadas. Está enjoada.
Olha para o cenário com um nó na
garganta. Voltava para o dormitório com Olympia, Tom e Constance. Andava pelos
corredores com um olhar morto, carregando a mochila vazia em um dos ombro,
quando, no meio do caminho, seguiu a agitação e chegou à vista do cenário da carnificina; os dois bodes jaziam no
chão gramado; a vaca, caída próxima ao córrego, pendia o pescoço desfalecido de
lado; as galinhas não passavam de farrapos e penas. Quem havia feito aquilo era
capaz de fazer coisa pior com os moradores daquele lugar, e, por um momento,
Malorie hesitou ao pensar se deixava as crianças ali ou ficava. Mas ela tinha
que ir. Daqui uns dias a comida faltaria, e ela não gostaria de ver seus filhos
com fome. Na verdade, não queria ver ninguém ali com o estômago roncando.
Constance se aproximou de Malorie
segurando seu ombro:
─ Vamos. Eles não merecem ver uma
cena assim ─ olhava para as crianças.
Se viraram e seguiram pelos
corredores até o quarto. Assim que chegou, Malorie encheu a bolsa com pedaços
de tecido preto ─ poderiam servir de vendas ─ cordas, cremes repelentes, duas
camisetas. Trocou de roupa, calçou uma bota e ao terminar se virou para as
crianças mais uma vez.
─ Fiquem bem... Eu já volto. Amo
vocês ─ Abraçou os dois.
─ Não vai, mãe. A gente te ama!
─ Vai ficar tudo bem ─ olhou para
elas mais uma vez com os olhos inundados por lágrimas e virou-se para
Constance. ─ Cuida bem deles!
─ Pode deixar. Boa sorte ─ se
abraçaram.
Malorie soltou um aceno e seguiu
pelos malditos corredores em direção ao salão de entrada, onde encontraria
Charlie e os demais voluntários.
*
Charlie está bem ali, em frente ao
portão de um corredor de segurança, que dá acesso a um outro portão. Há outras
seis pessoas ali: Uma mulher negra alta com cabelo trançado ─ Malorie sabia que
seu nome era Josephine; um rapaz saindo da adolescência, filho mais velho dos
Carry; Anne uma mulher consideravelmente baixa, que havia falado com Malorie
durante o almoço na primeira semana, seu cabelo estava amarrado em rabo de
cavalo; um homem cego entrando na terceira idade, pai de July; e dois outros
homens fortes que estavam na sala de controle com o Rick horas atrás.
─ Quando sairmos por esse portão,
faremos de tudo para que possamos voltar. Distribuirei estas vendas àqueles que
têm visão, as armadilhas serão levadas por Carl e James ─ apontava para os dois
homens fortes. ─ Não vamos parar no caminho para dormir, nem para descansar.
Seguiremos os fios e darei instruções até chegarmos em um lugar no qual
possamos armar as capturas. Não levaremos armas de fogo, podemos disparar sem
querer, mas levaremos facas, que serão usadas se for de extrema necessidade.
Fui claro?
Todos responderam com uma afirmação.
Charlie dá um comando em algum lugar e o
portão se abre mostrando um corredor largo com um portal ao fundo. Distribui
facas embainhadas e vendas e dá um aceno aos companheiros.
Malorie anexa a faca ao cinto e
amarra bem a venda ao rosto. Ela quer poder voltar.
*
Depois de cruzar o portão da frente
Malorie sente um arrepio na nuca que há muito não sentia. O ar ali era mais
fresco, mas ao mesmo tempo pesado. Ela suava, ofegava e flashes de seu passado
tomavam conta do breu. Estava de volta ao novo mundo. Estava de volta ao
contato das criaturas.
Ela não sabia se estavam andando há
horas ou em círculos. Tinha certeza de que Charlie sabia onde ia, mas não
confiava no escuro. Depois de mais alguns passos, Malorie percebe que chegaram
a algum lugar, seja lá o que for. Charlie chama a atenção de todos, que param
para escutar um aviso:
─ Vamos montar as armadilhas por
aqui. Este lugar era uma fazenda e creio que animais ainda frequentem esta
clareira, vale a pena arriscar. As armadilhas são feitas de peças que se
encaixam através de travas marcadas por números e letras em braille. As partes
de cada armadilha estão separadas nos pacotes, vamos encaixar as peças de
dizeres correspondentes e por fim encaixar as formações. As armadilhas em corda
já estão montadas. Só é preciso estendê-las e esperar ─ Charlie dizia, e quanto
mais ele falava mais Malorie percebia que ele realmente sabia o que estava
fazendo.
Se separaram em duplas e começaram a
montar as armadilhas. Malorie e Charlie ficaram juntos, montavam uma arapuca
com lugar para um porco enorme. O processo demorou horas. A brisa do amanhecer
se dissipou e deu lugar ao sol ardente do meio dia. Ao terminarem, se
posicionaram em um lugar que parecia ser um antigo muro e esperaram.
CINCO
O ar embriaga os pulmões, não há
mais frescor. Malorie não escuta nada além de grilos, mas sente mais do que a presença
dos companheiros e dos animais presos ali. Ela sente a presença das Criaturas.
Elas pesam, intoxicam e fazem mal aos
pensamentos da mulher. Ao lembrar que estava ali com aquelas criaturas noite e
dia a tempos atrás, ao lembrar que achou segurança e retornou ao covil do
monstro, sente-se como se fosse um usuário na reabilitação, que acabou saindo
para usar drogas e ao voltar caiu em abstinência.
É madrugada, todos sentem isso, e é
chegado o momento de recolher os animais e levá-los de volta. Amarram um a um
com cuidado para não fugirem. Não levam as armadilhas pois há risco de levarem
uma das criaturas como em um cavalo de Tróia.
Tensa.
Apreensiva.
Respira.
Malorie ajuda Charlie a amarrar o que parece ser um porco-selvagem. O bicho não dá sossego, torna uma simples tarefa na coisa mais complicada de se fazer quando têm um tecido tampando a visão. Os outros tentam amarrar o restante das caças; dois perus-selvagens, uma cabra e duas galinhas. Teriam que voltar um outro dia, o saldo atual não é o suficiente.
Apreensiva.
Respira.
Malorie ajuda Charlie a amarrar o que parece ser um porco-selvagem. O bicho não dá sossego, torna uma simples tarefa na coisa mais complicada de se fazer quando têm um tecido tampando a visão. Os outros tentam amarrar o restante das caças; dois perus-selvagens, uma cabra e duas galinhas. Teriam que voltar um outro dia, o saldo atual não é o suficiente.
A tarefa termina e os barulhos dos
grilos começam a cessar. Voltar percorrendo o longo trajeto é algo
temerosamente exaustivo quando há animais presos a você através de cordas e quando
você passou o dia tentando não cochilar na encosta dos destroços de um muro.
Quando raios luminosos mudam a
intensidade das vendas escuras Malorie percebe que está amanhecendo. Não sabe
como está de pé depois de todo esse tempo. Seus calos latejam, sua panturrilha
queima. O alívio vem quando Charlie toca em uma linha que faz um sininho ressoar,
o que significa que a Escola Para Cegos
Jane Tucker está a alguns passos de distância.
Ao chegarem, Malorie sente alguém passar
por ela e seguir à frente; Carl e James prosseguem e param. Parece que deram
algum toque ou comando dali do portão, pois este começou a abrir devagar.
Quando o barulho das alavancas cessaram e uma trava estralou, seguiram para
dentro em fila. Todos são revistados, tocados, checados para garantir que não
há invasores indesejados, e ainda de
olhos fechados, cruzaram o segundo portão após a fechada do primeiro.
Selados
mais uma vez.
*
Malorie mal chega, larga a corda que
a segura aos outros, arranca a venda e dispara pelos corredores rumo ao
dormitório. Precisa vê-los, precisa abraçá-los. No trajeto percebe movimentos
frenéticos de pessoas empolgadas com a volta dos "caçadores", esbarra
em algumas delas até chegar ao dormitório.
Ninguém.
"Como assim? As crianças deveriam estar acordando essa hora."
No refeitório. Com certeza devem estar lá.
Nada de Constance, nem Olympia nem Tom.
"Como assim? As crianças deveriam estar acordando essa hora."
No refeitório. Com certeza devem estar lá.
Nada de Constance, nem Olympia nem Tom.
Sua intuição a leva a um lugar óbvio,
a sala de controle. Malorie lembrava-se do que Constance havia dito, que iria
cobrir o trabalho do Charlie para o Rick, por isso ela corre, quer que esteja
certa. Sem ao menos bater na porta, gira a maçaneta e entra. Escuta choros.
Corre para Olympia e a abraça. Abraça Constance, olha pra Rick, analisa a sala,
girando.
─ Onde está o Tom? ─ ela pergunta
com os olhos lacrimejando, atordoada, sua cabeça está a ponto de explodir. Não recebe resposta ─ Me digam onde está o
Tom? Está brincando? Me digam que ele está brincando? ─ ela buscava não
embargar a voz, mas era impossível conter os soluços. Começa a chorar,
gritar... ─ ONDE ESTÁ O MEU FILHO?
─ Malorie, me d-desculpe! Ele sumiu
─ Constance deságua ─ tínhamos acabado de acordar, ele, Olympia e eu... Eu
levei Olympia para o banho e quando voltei ele não estava lá! Eu juro! Alguém o
levou, você sabe que ele nunca sai dessa forma ─ cai em prantos.
─ Não, não, não, não. Não pode ser!
Olhe nas câmeras, olhe!
─ Não temos a chave, só o Charlie...
─ Rick dizia causando indignação em Malorie. Ela não entendia como Rick não
tinha acesso aos próprios computadores ─ Malorie, tente se acalmar...
─ COMO EU VOU ME ACALMAR? É O MEU
FILHO!
Alguém abre a porta. A esperança por
um momento toma conta de Malorie, mas vai embora antes mesmo de pausar seu
choro. É Charlie:
─ Que diabos está...
─ Charlie, acesse as câmeras ─ a
mulher o interrompe. ─ Por favor! Rápido!
─ O que aconteceu?
─ ANDA!
O homem salta à frente do
computador, insere uma senha e destrava o aparelho, que diz estar
inicializando.
Cada segundo que se passa é uma tortura para
Malorie.
Quanto mais demora para receber uma resposta, mais
desesperada e incrédula fica.
─ Qual horário? ─ Charlie pergunta.
─ O que estão procurando?
─ P-por volta das sete ─ Constance
responde aos soluços.
─ O Tom sumiu ─ diz Malorie. O homem
olha para ela com uma expressão que vai do assombro à pena. Ele digita algo no
teclado, e abre uma pasta com arquivos de vídeo. Vasculha os horários.
Encontra: 7h 42min. Tom está
gritando nos braços de um homem magricela, alto, de cabelo ralos, vestes aos
frangalhos, face esquelética marcada pela desnutrição. Todos olham muito
atentos, Malorie chora. A imagem é clara o suficiente para que ela o reconheça.
─ O que está acontecendo? Acharam o garoto? ─ Rick pergunta confuso.
─ O que está acontecendo? Acharam o garoto? ─ Rick pergunta confuso.
─ Este é o homem que chegou horas
depois de vocês, Malorie! Por que?
Malorie sabe muito bem quem é este.
Conhece aquelas vestes, aquele rosto, aquelas feições. Pensara que havia se
livrado dele, achava que o homem já
havia levado muito dela. Por muito tempo pensou estar sendo vigiada, espiada
por aquela figura, e talvez realmente estivesse. O louco que fez a cabeça de
Jules, aquele que abriu as cortinas, causou a morte de todos que moravam com
ela. Cai a ficha de que Gary esteve por perto todo esse tempo.
─ É ele. É ele! ─ não controla as
lágrimas ─ Esse homem destruiu minha vida. Não temos tempo, ele vai fazer
alguma besteira. Até onde ele vai?
─ Malorie ─ Charlie olha para ela ─
ele saiu de uma sala e vai para a saída, para os portões. Agora.
─ Vamos! Venham! ─ Diz para Constance
e Tom ─ Vamos Olympia, segure-se bem em mim.
─ Não é melhor deixá-la aqui? É
perigoso...
─ Nunca mais eu me afasto dos meus filhos. Nunca mais.
SEIS
Desesperada. Malorie estava com as
mãos geladas, trêmula e com um nó na garganta que a impedia de respirar.
Tentava ultrapassar o tumulto enquanto carregava Olympia no colo, Charlie e
Constance vinham junto dela. Não pararam de correr até se aproximarem do portão
de saída.
Paralisaram quando deram de cara com
Gary a alguns metros de distância com Tom no colo. Ele tentava acalmar a
criança de forma sádica, soltava um "shhhh"
segurando uma faca de dois gumes em frente aos lábios ressecados, depois
gargalhava. Ele encara uma Malorie estupefata e ergue as sobrancelhas de forma
triunfante.
─ Como o tempo nos valoriza, não é?
─ Gary olha para eles entortando os lábios. ─ Parece mais surrada e decrépita
que a última vez que te vi, Malorie... Quanto tempo? Cinco anos?
─ Larga meu filho, seu imundo! Não
há motivo nenhum para estar aqui, por favor, deixe meu filho e saia deste lugar!
─ Porque não comeu das cabras que
temperei? Venenoso demais? Ou tentou bancar a salvadora sabichona mais uma vez?
Pelo menos deu uma saidinha... ─ ri impiedosamente.
─ Deixe a criança antes que eu atire
nessa sua cara suja ─ Charlie saca uma arma e aponta para o homem. Tom chora,
grita e esperneia, mas Gary o agarra forte, o machuca.
─ A cadelinha já trocou de
parceiro... Pensei que só Tom fizesse seu tipinho, Malorie...
─ Cale a boca e solte o meu filho,
agora! ─ grita, mas Gary olha para o chão de olhos arregalados e finge que não
escutou nada.
─ Você não escutou, seu porco? ─
Charlie segura a arma firme à mão.
─ Eu não vou matar esse pirralho ─ as pessoas começam a se dispersar
─ não, por enquanto. Primeiro quero que vocês se sentem no chão ─ ao não ser
obedecido, repete até que Malorie, Charlie, Constance e Olympia estejam
sentados no chão sujo. ─ Vou contar-lhes uma história, tentarei ser breve ─ se
aproxima e fica a alguns passos de distância do grupo. ─ vou dizer como essa
cadela arruinou tudo o que eu tinha ─ aponta a faca para a mãe do menino.
"Por muito tempo vaguei nesse
mundo, procurando um lugar para ficar e quase sempre era despejado pelos
moradores das casas que batia à porta. Pensavam que eu fosse louco, que fosse
matá-los, mas não era isso o que eu queria... Depois de um tempo andando,
tentei mostrar a um grupo a perfeição das criaturas que correm lá fora, mas não
me deram ouvidos, não aceitavam o que
viam e instantaneamente suicidavam. Cheguei a uma casa que à primeira vista
aparentava ser deserta, não fosse pela movimentação interna. Comecei a
espiá-los, aprendi sua rotina, e quando finalmente fui atendido custei a ser
aceito, e depois que essa mulherzinha entrou na minha vida, fez dela um
inferno. Ela foi a primeira a desconfiar de mim, me achava forçado, mexia em
minhas coisas enquanto dormia, e depois de uma acusação precipitada colocou a
maioria da casa contra a minha pessoa. Fui mandado embora, mas não fui. Fiquei
escondido, e no momento certo tentei mostrá-los a perfeição que era olhar nos
olhos das Criaturas, mas ninguém queria enxergar, ninguém compreendia. Essa
porca agiu contra mim, colocou todo o meu plano a perder de início... Mas Jules
fez bem o meu trabalho. Achou que eu iria me afastar de você Malorie? Acha que
eu não observava você de perto quando tocava sinos em frente a esses pirralhos
e esperava que eles escutassem bem? Eu estava lá quando você os treinou. Estava
lá quando entrou naquela canoa. Eu estava com você. E se você não me permitiu
mostrá-la a criatura, se me repugnou e me desmascarou, agora eu vou realizar o
seu desejo. Vou impedir que este garotinho aqui tenha pesadelos ao ver a
perfeição. Ele não verá as criaturas...
─ Que diabos quer dizer com isso,
seu merda? Por que tanta fissura depois de todo esse tempo? ─ Malorie não
conseguia processar toda a informação que acabara de receber.
─ Eu assisti você quando tentou
cegar as crianças ainda recém nacidas... Solvente de tinta, um bom jeito de
acabar com o clarão dos olhos. Mas o que impediria você de deixá-las enxergar
nesse mundo, sendo que se abrirmos seus olhos vocês simplesmente se matam?!
Percebi de cara que manter a visão dessas crianças era algo importante pra
você...
─ O que você quer? Solte o Tom,
agora!
─ Tom? ─ desdenha e ri ─ Ora, ora...
Não está claro o bastante para você ou vai ser preciso que eu arranque os olhos
desse menino e jogue em sua cara? ─ aproxima a faca ao rosto de Tom com um
gesto rápido e ríspido. O menino grita, esperneia e chama pela mãe enquanto
Gary percorre a faca rasgando a sua bochecha.
─ PARA! ─ Charlie grita, se levanta
e aponta a arma engatilhada para Gary.
─ É melhor abaixar essa arma, aposto
que dilacero o pescoço dessa criança antes mesmo de ser atingido na cabeça.
Abaixa ─ ameaça pressionando a faca no pescoço fino do garoto.
─ O que você quer de mim? ─ Malorie
chora.
─ O que eu quero é simples: quero
que você enxergue. Quero que você se entregue às criaturas. Faça isso e eu
solto o garoto e sumo daqui.
Malorie sente como se acabasse de
levar uma porretada nas costelas. Abandonar tudo, esse mundo, os filhos... Se
entregar às criaturas para que seu filho fique inteiramente vivo...
─ E se ela não for? ─ Constance
abandona o silêncio.
─ Se ela não for, eu acabo com os
olhos desse aqui ─ diz apontando a faca para Tom.
Malorie pensa na decisão mais
difícil de sua vida. Ela não pode deixar que aconteça algo com seu filhos.
Pensa. Olha para o lado.
─ Constance, por favor, cuide bem
delas?
─ Não, Malorie, não! Você não pode
fazer isso!
─ Eu tenho que ir, não posso deixar
que algo aconteça a eles, nunca me perdoaria. Vamos fazer o que ele está
falando ─ começa a sussurrar ─ eu vou,
você pega o Tom e a Olympia, e Charlie tenta garantir que esse monstro saia
daqui.
─
Malorie, não...
─ Eu não posso deixar meu filho nas
mãos desse homem, por favor, cuide deles. ─ Pedia. Se abaixa e dá um abraço em
Olympia. ─ Filha, eu te amo! Eu te amo muito! Seja forte, vai ficar tudo bem.
Fique com seu irmão, nunca abandone-o. Fiquem juntos.
Todos choram enquanto Gary ri à
frente deles. Malorie pede que abram a saída, e depois de muita relutância,
Charlie ordena para que abram o acesso ao corredor que dá ao portão da frente.
Ela caminha em direção à cavidade do muro, dá um último olhar para Olympia,
Charlie e Constance, olha para Tom e solta um "eu te amo" sincero e
cortante. Ela fecha os olhos e entra no corredor.
Enquanto Gary ri, coloca o garoto no
chão, Constance agarra sua mão e puxa.
─ Só deixo o garoto ir quando tiver
certeza de que ela está com as criaturas, lá fora ─ o homem resiste e torna a
aproximar-se do menino.
Como se o mundo estivesse em câmera
lenta, Gary olha para Malorie dentro do corredor e, enquanto observa os portões,
cai no chão, ensanguentado. Constance se agarra a Tom, puxa Olympia com a outra
mão e corre como nunca correu antes. Malorie está distante, mas ao ver o corpo
seco de Gary caído no chão vira as costas ao portão que se abre e tenta voltar
antes que fique trancada para fora.
Ela está longe. Chora muito. O
portão está se fechando, sente os arrepios causados pelas criaturas vindas do
lado de fora.
Não vai alcançar. Está muito longe.
Alguém aparece de joelhos, próximo
ao portão. Charlie tenta segurar a passagem pois a trava o impedia de manter a
abertura pausada. Segura o portão em cima dos ombros, tremendo, olhos lacrados
para não olhar para fora. Malorie está alcançando. Não vai dar tempo.
Ela se aproxima. Charlie treme sob o
aço. A passagem é apertada. Malorie deita no chão e se arrasta para dentro. O
portão se lacra, sangue jorra. Ao olhar para trás, encontra metade do corpo do
homem serrado, triturado, cortado pelo portão. Morto.
EPÍLOGO
Ela está chorando novamente, mas
agora está limpa e tem seus filhos aninhados em seus braços, está na sala de
controle com Rick, Constance e Carl. Conversam sobre o que acabou de ocorrer e
discutem sobre a segurança do lugar. Depois de um tempo de silêncio uma
pergunta corta o ar:
─ Por que? Por que ele fez aquilo? ─
Malorie não direcionou a pergunta a alguém específico, mas foi respondida.
─ Malorie... Ele realmente queria te
salvar... ─ Carl responde ─ Queria que você permanecesse viva, com seus filhos
a salvo. Ele fez de tudo para que você pudesse voltar...
─ Eu sei... Mas por quê simplesmente
não esperou o portão se fechar, para depois abrir para que eu passasse? Ele se
sacrificou!
─ Bom, Malorie, o nosso sistema de
segurança sofreu diversas modificações ao longo do tempo, e conta com pausas
após as aberturas para impedir a penetração das criaturas neste lugar ─ Rick
começa a explicar. ─ O que dá acesso à área externa foi aberto, e entregava
nosso sistema à infecção do mundo externo. Se tornasse a abrir o segundo, que
isola a entrada do corredor, as criaturas tomariam conta desse lugar, o que
colocaria em risco a vida daqueles que enxergam, e tirariam a paz que esse
lugar tenta oferecer.
─ E sim, ele se sacrificou pensando
em você e nas crianças. Fez algo certo, não só por isso, mas pela segurança do
local... ─ Carl prosseguiu.
─ Mas fica uma dúvida, que apesar de
inusitada ainda me perturba ─ Rick se direciona para Malorie, onde tem certeza
de sua localização. ─ Se este novo mundo é tão perigoso para os que enxergam,
por quê se importa tanto que as crianças tenham visão? Não leve a mal, só quero
entender...
─ Eu te entendo ─ Malorie responde.
─ Muito tempo atrás pensei em fazer isso com elas, pois seria mais fácil assim,
sem contar que não correriam risco ─ diz lentamente fungando o nariz ─, mas
este mundo já é cruel o bastante por tudo o que aconteceu, e pela forma como já
arrancaram anos das crianças, nos quais elas sequer viram o verde da grama.
Foram estes olhinhos ─ olha para os dois ─ que me deram aconchego, conforto e
esperança nos momentos mais tenebrosos da minha vida naquela casa. Esses
olhinhos nasceram vedados pelo novo mundo, que lhes arrancaram oportunidades
únicas que jamais terão na vida. Eu não poderia arrancar-lhes a oportunidade de
olharem novamente para um lugar sem vendas tapando-lhes o que há de melhor no
mundo. Não poderia impedi-las de um dia abrir os olhos sem medo do que vão
enxergar, e espero com todas as minhas forças que esse dia chegue.
Malorie olha mais uma vez para os
filhos, os abraça forte e chora. Finalmente se sente em paz.
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